sábado, 28 de abril de 2012

BADARÓ, A LOCOMOTIVA

Não foi por acaso que meu pai usou a imagem da locomotiva em sua campanha para o Governo de Minas, em 1986. A imagem impressionantemente robusta e maciça da “Maria Fumaça” era o retrato de sua liderança, determinação, capacidade de trabalho e de ajudar a todos os que tiveram a honra de solicitar seus préstimos. Sempre me dizia no café da manhã: “meu filho, o sol nunca me pegou na cama”. Madrugador contumaz, antes de amanhecer já estava trabalhando pelos interesses de sua terra. Com sua personalidade forte e marcante e seu olhar penetrante, espalhava simpatia e alegria entre todos que conviviam com ele. Dono de uma inteligência privilegiada e vasta cultura, irradiava conhecimento e foi um grande guardião da cultura e dos costumes de Minas Gerais. Nascido na pequena Minas Novas, encravada no Vale do Jequitinhonha, no início da década de 30, teve a sorte de ter uma educação de qualidade, onde disciplina e rigidez eram aplicadas por “Tia Corina”, conhecida e conceituada educadora da região. Sua sólida base educacional o preparou para trilhar uma brilhante carreira na vida pública. Ao eleger-se o mais novo deputado estadual de Minas com apenas 27 anos, em 1958, adentrou à arena onde pôde exercitar sua vocação (do latim vocatione = chamado), Murilo Badaró estava realmente atendendo a um chamado de Deus para lutar por seu povo. Após sucessivos mandatos estaduais, galgou o Planalto Central para defender Minas e sua região no Congresso Nacional. Exerceu mandato de senador e teve atuação de destaque no Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, na gestão de João Baptista Figueiredo. Nesta época, teve a honra de inaugurar a Açominas, que se arrastava por falta de verbas federais para a conclusão do projeto. Segundo me confidenciou, condicionou ao general Figueiredo o aceite ao cargo à inauguração da Açominas, realizando duras negociações com Delfim Neto, o czar da economia naquela época, para a liberação dos recursos necessários. Sentia prazer em viajar ao interior e sentar-se à mesa para um bate papo com os amigos, regado a um cafezinho forte e às gostosuras da culinária mineira. Lembro-me de sua imensa dedicação às suas pesquisas, sempre ao lado de seu inseparável note book. Dali surgiram excelentes obras literárias e as biografias dos grandes homens de Minas, nos quais ele se espelhava, como Milton Campos, José Maria Alckmin, Gustavo Capanema e Bilac Pinto. Com sua escrita leve e agradável, Badaró contava a todos, em suas obras, a História das Minas Gerais. Contou-me que estava trabalhando num ensaio sobre Machado de Assis, que seria seu próximo projeto. Infelizmente, não teremos o gostinho de saboreá-lo. Nosso pai está entre nós e sua memória permanecerá viva em nossas vidas eternamente, como uma luz forte do alto de um farol que nos guia, seja qual for o tempo, sempre, com dignidade, a um porto seguro.

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